Bastava ventar para que as folhas de outono tornassem o momento perfeito. Não ventou e o mormaço turbinava o alvoroço dos insetos. Ângela suava um pouco perto do arranjo do cabelo e fiapos enrolavam-se ao molhar. André ignorou, foi feliz assim mesmo.
A espera foi enfadonha, tiveram de esperar o próximo voo, ele não leu o aviso que pedia para fazer o check-in duas horas antes da partida. Ângela aproveitou para rever o roteiro e também foi feliz.
Seria um presságio, André ignorou, seria um começo, Ângela também.
No divórcio, cada um no seu lado da mesa tombava o tronco um pouco mais e olhava para o lado oposto. Esperavam em silêncio. André foi o primeiro a lamentar:
Você disse que eu era o homem de sua vida...
Ângela olhou. Séria e sem demonstrar desequilíbrio, retrucou:
E você que eu era a mulher de seus sonhos...
5 comentários:
perderam o medo da chuva?
"André ignorou, foi feliz assim mesmo."
Geralmente ocorre que sejam felizes os que ignoram. E aqui não vai nenhum julgamento de valor, de justiça ou injustiça: é uma mera constatação.
Gostei do texto.
Beijos
Mui belo. Compartilho da beleza e do experimento desses contos curtos.
Abraço de arte.
retomo o caminho.
romério
Pois assim é... Ótimo conto.
Postar um comentário